A depressão é como um segundo "ser", ou melhor, dois "seres" que se confrontam, separados de mim, mas que me "habitam", que me consomem. É difícil colocar em palavras um misto de sentimentos e emoções... É como um processo de erosão, do vento a bater nas rochas; não se percebe, mas a rocha vai desgastando-se, assim percebo como surgiu e a minha actual condição.
Já não a encaro como doença, mas sim algo que precisa de atenção, reflexão e trabalho quotidiano, para se poder lidar com um conjunto de factores (alguns externos), compreender e agir em conformidade. Se é necessária medicação para casos em que a terapia não basta, é a solução que se aplica; foi o meu caso.
Quando falo, será sempre pela minha perspectiva - cada pessoa o seu diagnóstico. Não sei como foi com outros, no meu caso, julgo que os primeiros sinais de depressão manifestaram-se, por comparação de sentimentos (estado de espírito), em 2008/09; mas não liguei aos sintomas, desisti da faculdade e refugiei-me no sítio mais seguro: a casa dos meus pais. Comecei a trabalhar e vida foi-se fazendo, e por anos, não se manifestou, até aos confinamentos.
É necessária uma profunda reflexão para percebermos quando tudo começou, pelo menos tentar perceber o ponto de "ruptura", mas é importante voltar a esse sítio, para, de certa forma, compreendermos e fazer as pazes. A terapia é importante, seja individual ou de casal, ajuda a colocar as coisas fora de nós, a tentar a catarse aos poucos.
É possível tratamento, recuperar, "voltarmos" a sentir a normalidade, ou uma nova circunstância que nos deixe apaziguados, encontrados, com sentimento de pertença ao que nos rodeia. Não sei o que é felicidade, mas sei o que são momentos felizes; estes não acontecem por acaso, haverá sempre uma certa parte de responsabilidade e de entrega/procura da nossa parte.
Este projecto foi partilhado no Instagram, a partir de 27 de Maio de 2021 até 21 de Junho de 2023.
Se leram até aqui, obrigado pela paciência. Bem-haja! |